sábado, 24 de outubro de 2009

Um projeto de nação... e enquanto isso, em Caçador...

Um projeto de nação

Luiz Scavarda e Marcos Formiga


O século XXI está se caracterizando como uma época na qual o conhecimento, mais do que nunca, define valores e riqueza. Em particular, o conhecimento tecnológico agrega valor aos produtos e serviços que, hoje, ganham escala global, e surge como resultado de um constante esforço de educação básica que gera uma plataforma de cidadania, oportunidades de trabalho e renda, e prepara contingentes de pessoas para a educação superior.
Pode-se tomar como referência o caso da Coreia do Sul, que, em 1953, saiu de uma guerra com a Coreia do Norte e que, menos desenvolvida que a Coreia do Norte, onde se concentrava a indústria, foi quase completamente destruída. Nos últimos 55 anos, a Coreia do Sul revolucionou seu processo de aprendizagem da educação básica até a universidade.
No campo da educação superior, investiu pesadamente em cursos de engenharia e, ao longo dos anos 70 e 80, mudou o patamar de formação de 8 para 80 mil engenheiros por ano. Engenheiros, aliados a técnicos e tecnólogos de qualidade, e a um agressivo programa de competitividade no mercado mundial, permitiram que a Coreia do Sul atingisse uma renda per capita de US$ 25.000 por ano, 35a posição mundial na listagem do FMI. Além disso, alcançou o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,928 (25a. posição mundial). Para referência, estes números são, para o Brasil, respectivamente, 10.300 dólares (77a posição) e 0,807 (70a. posição).
A estratégia de seu desenvolvimento econômico teve nas exportações o seu eixo dinâmico, o que ocasionou uma transformação radical na economia: seu PIB, de US$ 2,3 bilhões em 1962, alcançou US$ 970 bilhões em 2007. Seu crescimento acelerado foi abastecido pela alta capacidade de poupança, que garantiu vultosos investimentos e uma forte ênfase em educação.
Com tais atributos, a Coreia detém a maior indústria de construção naval do mundo, a terceira em semicondutores e a quarta em eletrônica digital. A cada década, a indústria coreana mudou o seu perfil, iniciado com a química pesada; reestruturou-se nos anos 80 para promover as pequenas e médias empresas; e preparou-se para a abertura dos mercados e sua liberação nos anos.
Desde 2000, a inovação está no topo da agenda nacional. Existe um crescente interesse por parte dos investidores em P&D e centros de logística que asseguram à Coreia uma posição entre os dez primeiros grandes captadores deste segmento. Em 2006, a Coreia ocupou a 4a. colocação global em termos de pedidos de patentes internacionais na Organização Mundial de Propriedade Intelectual (Ompi).
A crise econômica ameaçou as conquistas realizadas. Para enfrentá-la, fez reformas cambiais, fiscais e trabalhistas, negociou e reestruturou a dívida externa com os bancos credores.
A Coréia ocupa hoje a posição de 13 a economia do mundo, com volume de comércio externo de US$ 728 bilhões, sendo a 11 a indústria mundial, e a quarta maior reserva cambial. Para revigorar a opção pela tecnologia de ponta, recentemente foi criado o inédito Ministério da Economia e do Conhecimento, que, por meio do Instituto Coreano para o Avanço Tecnológico (KIAT), tem a responsabilidade da pesquisa aplicada, da inovação e do empreendedorismo.
O exemplo da Coreia do Sul não pode e nem deve ser copiado, mas é uma lição de estratégia e sucesso que pode servir de inspiração para os países em desenvolvimento, ainda relutantes em definir sua prontidão para o futuro de modo compatível com suas necessidades, potencialidades e vocação.
O Brasil possui vantagens competitivas, se consideradas a imensa riqueza natural que possui e a intrínseca criatividade de seu povo.
Ainda que ao longo do século XX tenha havido um forte crescimento econômico baseado em recursos naturais, para desenvolver a competência necessária e explorar as vantagens alternativas a seu dispor, o próximo passo é um projeto de nação para o século XXI baseado na riqueza emergente advinda do conhecimento.
(In: O Globo, 23/10/2009)

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