sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Por uma UnC mais universidade - especial

Para meditar:

O problema do governo da universidade é o problema do poder no mais original dos regimes políticos. Tão original quanto a instituição deve ser o poder que dela emerge; exercê-lo corretamente pressupõe fidelidade à sua índole.
A universidade não é uma monarquia, nem uma oligarquia, nem um regime dual – de senhores e servos. Muito menos seria um regime em que o poder se exercesse como uma aventura gratuita ou dionisíaca. Não é a República de Platão, nem aquela “democracia filosófica” de que falava Newmann, referindo-se aos atenienses, no seu livro sobre a “origem e progresso da universidade”. Nem tecnocracia, nem cesarismo.
Um pouco de quase tudo isso, a tudo isso transcende por força de sua radical ambigüidade.
O seu governo não pode pertencer apenas a uma geração, porque ela institucionaliza um diálogo entre diferentes gerações, representativas de realidades culturais e sociológicas distintas. Neste diálogo se defrontam, como contribuições válidas de cada lado, o acabado e o inacabado, o maduro e o imaturo, o ser e o vir-a-ser.
Ela representa os interesses da sociedade, participa da política do Estado – no sentido de que é parte da pólis – mas não é governada pelo Estado, nem em seu nome. É a única instituição que se insere no Estado e o transcende.
Ela exprime uma civilização nacional, mas não pode deixar de ser transnacional; serve a um lugar, a uma região, mas não pode ser nem local nem regional, Nem pode, tampouco, ser governada pelas idéias de um partido ou de um grupo, ou de uma preferência intelectual – de humanistas, cientificistas ou de tecnólogos – nem por opções ideológicas, pois que de todas devem encontrar-se dentro dela, o mais possível desideologicizadas e reduzidas a um nível de racionalidade, que é o seu método.

Durmerval Trigueiro Mendes

MENDES, Durmeval Trigueiro. Ensaios sobre educação e universidade. Organizadores, Maria de Lourdes de Albuquerque Fávero, Jader de Medeiros Britto. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2006, p. 105-106.

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